domingo, 30 de março de 2008

ENTREDENTES

Esta semana a questão da produção de energias renováveis esteve na ordem do dia – mas realmente só para quem esteve atento. E ontem mesmo parece que a velha máxima do "se queres atrasar um processo, manda fazer um estudo" (ou "nomeia uma comissão) parece que está mais viva que nunca. Diz José Luís Amaral, Director da Energia, em entrevista ao Bom Dia Açores: o protocolo com o MIT é o melhor do mundo, mas o que quer que seja que dê será para ser implementado daqui a 20 ou 30 anos… Maravilhoso, delicioso, simplesmente imperdível (mas só para quem lê jornais)!

De facto só podia ser uma espécie de jogo do empurra: a EDA já não pode receber mais energia renovável, mas passam-se leis a dizer aos privados para produzirem e anuncia-se que o objectivo do protocolo com o Massachussets Institute of Tecnology visa implementar o conceito de "ilhas sustentáveis". Daqui a 30 anos, imagino eu – o que garante que por essa altura já seremos os últimos a chegar. Para colocar a cereja no topo do bolo, resta dizer que os "limites técnicos" à entrada de mais energia renovável na rede da EDA foram criados… nos últimos 12 anos, com as opções de potência tomadas para a produção a fueloil. Ou seja, desta vez os socialistas já não precisam de procurar no tempo de Mota Amaral para criticarem o imbróglio que foi criado – basta olhar para trás uma meia dúzia de anos… Ah, se a incompetência desse prémio, tínhamos montes de totalistas!

Ainda em relação a este tema – mas transversal a muitos outros -, retenho o comentário de um jornalista: "claro, o Governo também está a agir nesse sector". Pois está, é claro que está, aliás, se virmos bem, está a agir em todos os sectores. Pode é estar a agir bem ou mal… Faz-me lembrar a catadupa de leis que temos sobre tudo e mais alguma coisa: esqueceram-se que se as leis resolvessem todos os problemas não havia qualquer tipo de crime. Pois, não basta ter leis: bem mais importante que isso é ter leis ligadas à realidade, que sejam aplicáveis – e que sejam realmente aplicadas. É como o estar a agir…

O Partido Socialista tem uma nova sede e, quem diria, voltou para a zona da Vitória – local da sua sede histórica. Como agora o partido anda no Governo, passou para a zona nobre, o que não deixa de ser uma grande evolução – ainda por cima parece que é finalmente uma sede com todos os requisitos de um partido de governo. Parabéns a todos os militantes que mantêm as respectivas quotas em dia, pois sem eles nada disto teria sido possível. Pelo menos imagino que seja assim – mesmo que não compreenda lá muito bem é como depois há tanto dinheiro para as mega-campanhas eleitorais. Deve ser dinheiro-fémea…

Oque me leva a reflectir sobre a frase de César, que recentemente disse "não haver notícia de membros do seu Governo que tivessem enriquecido". Quer dizer, não há nada de novo aqui: eu também não tenho notícia de nenhum membro da minha família que tenha enriquecido nos últimos 12 anos… Aliás, também não tenho nenhum amigo que tenha enriquecido nos últimos 12 anos, a não ser que ande muito distraído. Para ser directo, também não é para se enriquecer que se anda na política: já Mota Amaral me dizia que na política ninguém fica rico. Há muitos que enchem os bolsos, mas isso não é enriquecer. Aliás, normalmente enchem é os bolsos de outros, que depois arranjam uma maneira de se pagar. Não, não há notícia – aliás, há cada vez é menos notícias. Como convém!

E por falar em notícia, isto é que foi um tal desancar na comunicação social esta semana na Universidade dos Açores, culpando-a por todos os males do mundo. Oh corisco, se isso diz alguma coisa do curso que comunicação social que é ministrado naquela instituição, estamos bem amanhados. Ora vamos lá a ver se coloco aqui alguma perspectiva: por que é que a comunicação social dá mais enfoque nas "más" notícias – e que elas, de resto, vendem mais? Elementar, caro Reitor: porque elas são mais importantes. Um pequeno exemplo: é mais importante saber-se que um carro pode atingir os 200 km/h ou que ele tem os travões despachados? O jornalista que estiver à procura do óbvio pode até ser o preferido de todos os gabinetes de relações públicas do mundo – não está é a cumprir a sua missão. Já agora, se querem um mundo mais bonito na comunicação social, criem-no!!!

Manuel Alegre esteve a apresentar um livro no Palácio de Sant’Ana, pago pelo próprio Governo. "Entre camaradas" é como se poderia ter chamado a apresentação do livro – mas só não estaria certo porque houve alguns, poucos, não-camaradas, embora apoiantes (que é a categoria antes da inscrição no PS). Diga-se de passagem que César não podia ter recebido um elogio maior – ou mais caro, também. A não ser, claro, que o escritor tenha autorizado a sua utilização na campanha eleitoral que se avizinha. Se sim, até foi barato – aliás, nem custou um tusto: fomos nós que pagámos. Concelho: da próxima, façam-no numa livraria local: sempre ajudavam a dinamizar a cultura e a economia regional…

Esta semana também foi sabido que o Governo vai plantar 1 milhão de plantas na bacia hidrográfica das Furnas. E como por cá esta coisa da eutrofização é uma autêntica novidade, a responsável foi logo dizendo que iam pôr as árvores para ver como a lagoa ia reagir. Desculpe: vão esperar 20 anos para ver como a lagoa vai reagir? Sentada ou… deitada? Só espero que não pensem que já podem começar a lavar as mãozinhas do problema que criaram só porque vão reflorestal aquilo. O que não falta é que fazer…

Como parceiros do mesmo ofício que fomos nos últimos anos, mando daqui um abraço ao Tomás Dentinho, que deixou agora a direcção do jornal A União (que passa para o padre Manuel Carlos). Gostei especialmente do seu balanço: com ele, "o jornal conviveu também com tentativas de aniquilamento por parte do poder, como o Promedia". Ele tinha os olhos bem abertos – ao contrário de muitos outros que ainda andam por aí…

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sexta-feira, 28 de março de 2008

Alegrias cesarianas

Manuel Alegre é gente de bem, por aquilo que representa e por aquilo que é. Pessoalmente, gosto em especial da ideia do artista-político que ele desempenha na perfeição, assim como da sua irreverência perante o que considera ser a injustiça do mundo.
É por isso que me senti algo incomodado com o seu belo discurso no Palácio de Sant’Ana: não deve ser fácil ser patrocinado por um Governo e depois ter de lhe prestar vassalagem, mesmo que neste caso ainda tenha conseguido ver material suficiente para poder criticar José Sócrates. Nada fácil. Mas como ser poeta também é fingir que é dor a dor que realmente se sente, Alegre conseguiu ver aquilo que ele gostaria que fosse verdade, sem que realmente ainda o seja…
Até seria interessante que César fosse o socialista que Alegre vê nos Açores, herdeiro de Antero de Quental e fonte de inspiração para os socialistas portugueses. Sigamos a mesma matiz poética: realmente o socialismo açoriano é isso tudo, só que totalmente diferente…
Infelizmente o nosso socialismo é bem mais humilde do que Alegre quis ver – e quer na Saúde como na Educação o resultado é uma sociedade bastante mais desigual que aquela que Antero um dia imaginou, enquanto que na administração pública e na solidariedade, ela é sobretudo incompetente e socialmente injusta.
Apesar de tudo, a mensagem de Alegre até pode ter um resultado inesperado. É verdade que o mais fácil talvez seja engolir o elogio, tal como ele veio, de forma aparentemente gratuita – mesmo apesar de ser uma novidade que agora se pague a figuras de renome para escrevinharem sobre os Açores (antes eram os próprios artistas que o queriam fazer)… Mas fariam melhor os socialistas se recorressem a ditados mais sábios, como o que diz que quando a esmola é grande o pobre desconfia – e meditassem sobre a distância que vai entre o que Alegre viu e o que ele queria ver…

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