quinta-feira, 17 de abril de 2008

Criminalidades...

Ao centrar a questão do aumento da criminalidade nos seus aspectos policiais, tanto Carlos César como os restantes políticos estão a cometer um erro de graves consequências. E não só demonstram o seu mais completo desnorte em relação ao tema, como estão a escolher um caminho que claramente não interessa à Região. Já não nos bastava estarmos "presos" nas ilhas, um modelo de "estado policial" será um sufoco ainda maior. E também é retirar o enfoque ao problema real.
Em momento de despedida da Região, o Comandante da PSP também não prestou um contributo positivo à questão, quando refere que a criminalidade "só" aumentou em Ponta Delgada. Só? Pois, é "só" onde vive 25% da população açoriana – e, honestamente, o que necessitamos é de ver números que comprovem esse tipo de observações. Afinal de contas, ainda há pouco tempo a insegurança era apenas uma questão psicológica…
Na realidade, parece cada vez mais imprescindível um Relatório da Segurança Interna Regional, que permita compreender este fenómeno à luz da nossa realidade. O Relatório nacional é muito genérico e claramente não é um documento capaz de basear as muitas políticas que são necessárias adoptar num futuro próximo.
De qualquer modo, permite perceber que cerca de 40% das queixas têm a ver com actos de violência – e isso é suficiente para nos fazer reflectir sobre o tipo de sociedade que temos. Mas essa não é uma responsabilidade de Sócrates – é sobretudo de César! E se as causas dessa situação são múltiplas e têm de ser estudadas profundamente, é também imperativo repensar o modelo da resposta que tem vindo a ser dada. Porque claramente – se é que existe sequer consciência disso – quem tem responsabilidades sociais está a falhar redondamente.
Responsabilizar os outros pelas nossas próprias culpas não é só uma atitude de mau perdedor – é estar a brincar com coisas muito sérias!

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quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mais uma "comissão"...

Da reunião da lavoura com os industriais de segunda-feira, voltou a confirmar-se a máxima de se constituírem comissões (e afins) quando se quer protelar a resolução de um problema. E têm razão os lavradores em sentirem que se tratou sobretudo de uma tarde perdida – porque foi mesmo isso que foi.
Aliás, tem o seu quê de patético que esta tenha sido a única resposta possível, quando se estava perante uma espécie de revolução, com a eliminação do sistema de preços de Verão e Inverno – um modelo que dura já há muitos anos. Perante a dimensão do desafio, esperava-se mais que orações e esperanças e que já existissem dados concretos (os tais que agora foram remetidos para o próximo ano) com os quais "apertar" a indústria.
Para alguns, o desenlace apenas prova a incompetência governamental, mas poder-se-ia contrapor que talvez não, tendo em conta o agrado com que o Governo contemplou a sua própria ideia. Mas na realidade o objectivo governamental nesta área está reduzido a um único ponto: manter a "paz social". Especialmente em ano de eleições…
Mas convenhamos, é pouco como objectivo, muito pouco mesmo. E a paz que daí advenha, apenas pode ser podre: na realidade, são mais alguns milhões de euros que saem dos Açores por via da indústria – e desaparecem dos bolsos de inúmeros produtores.
A indústria não conseguiu, até ao momento, ser convincente em relação aos seus argumentos. Mas tal como o leite não começa a jorrar no dia 1 de Março nem desaparece a 1 de Setembro, os lavradores teriam de estar preparados para a eventualidade desta decisão. Afinal de contas, o desafio – o grande desafio – para os lavradores, esse mantém-se, porque em negócio… é na poupança que está o ganho!!!

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Cuidado com as promessas...

Terminado o passeio milionário a Cabo Verde, o balanço deixa-nos apreensivos. Não por todos os objectivos que foram descortinados – que no papel são deveras interessantes -, mas pelos próprios caboverdeanos que, sem um país e uma Europa que os suporte, poderão acabar por ser vítimas dos intuitos cristãos do nosso governo.
Aliás, qualquer analista pode ficar apreensivo como é que uma região que tem ainda carências tão grandes (pelos padrões europeus) no seu próprio território, se lança numa aventura internacional deste calibre. Os caboverdeanos devem igualmente meditar se os Açores terão realmente alguma capacidade para cumprir o que andaram a prometer.
Dentro dos Açores, mais uma vez não se ouviram vozes independentes que contribuíssem para o enriquecimento da iniciativa governamental. É, obviamente, um sinal de que alguma coisa não vai bem ao nível civilizacional cá dentro, mas sobretudo é a garantia que metade dos propósitos não foram cumpridos: quando César dizia que a visita era "uma marca indelével no relacionamento dos governos dos Açores e de Cabo Verde, bem como dos respectivos povos", bem que pode ir riscando a segunda parte...
É evidente que em termos teóricos este tipo de relacionamentos é sempre positivo – especialmente se conseguíssemos cumprir. E é aí que fico com as muitas dúvidas, até porque a qualidade do que foi feito nos Açores nas diversas áreas abordadas é, no mínimo, muito discutível. No papel, dizer que se vai apoiar Cabo Verde na Educação e Formação Profissional, na Agricultura e Meio Ambiente, na Saúde e Assuntos Sociais, na Protecção Civil, na Defesa do Consumidor e no Ordenamento do Território pode parecer muito interessante – não estivéssemos nós próprios confrontados com problemas gravíssimos em todos eles.
Acima de tudo, convém não desviar a atenção do que é realmente preciso fazer cá dentro…

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ENTREDENTES

Oops, então José Sócrates também é responsável pelo aumento da criminalidade nos Açores – uma tendência que já se verifica há 8 anos, mas que não tem nada a ver connosco: é importação. Que rica maneira de se descartar das responsabilidades… Mas também demonstra uma outra visão que é muito original: o problema tem apenas a ver com a falta de polícias. Curioso, sem dúvida, apesar de termos mais presos per capita que o resto do país, César (e os restantes políticos convencionais, diga-se de passagem) quer mais. Não sei, sinceramente, mas pensar que mais polícias, por si só, resolve o problema, é acreditar na galinha dos ovos de ouro. Bem, quer dizer, César tem provas que ela existe…

Mas Cabo Verde deve ter qualquer coisa de estranho. Não é que o Presidente agora quer que os açorianos – tesos como são – vão investir para aquele arquipélago? É o que se pode chamar de "internacionalização da autonomia" – ou, mais à moda de cá, de "Autonomia Internacional" (ou "Macaronésica", embora esta possa parecer piada)… Quer dizer, cá dentro anda a pedir que venham de fora investir nos Açores – e paga aquelas excursões aos norte-americanos; lá fora quer que os tesos dos nossos empresários vão lá investir. Não sei, não, mas se começasse a fazer umas perguntinhas sobre a "economia real" que cá se vive, talvez percebesse que eles foram lá todos não foi para verem onde investir – foi para aproveitarem as férias à borla…

E para terminar com este ciclo de Cabo Verde, mais uma calinada: César a criticar "os de esquerda" por apontarem o dedo aos mega lucros da banca. Quer dizer, já não é só o PS que não é dos socialistas – pelo menos não é só, como quer o líder –, agora é o próprio César que não gosta de esquerdices. Resultado, à pala de tentar converter social-democratas, populares e sabe-se lá mais o quê, acabou sendo ele o convertido. Oh, Deus meu, se ele ao menos soubesse estar calado… Está bem que os bancos ganhem qualquer coisa, mas tanto que paguem fortunas aos seus administradores acho difícil de acarinhar. Enfim, é o que está a dar!

Já agora, será que a famosa "polícia municipal" vai resolver alguma coisa? Talvez, não sei. Mas o que sei é que as suas atribuições são sobretudo "fiscais" – passar umas multas aos carros mal estacionados, proibir namorados de se beijarem nos jardins e coisas do género. É verdade que terão a vantagem de retirar as actuais forças policiais "a sério" dessas funções – o que já não é mau – mas cheira-me que a criminalidade não vai baixar por causa deles. O que vai aumentar é a despesa corrente – a segurança, talvez nem por isso…

Esta nova "guerra do leite" é um bom imbróglio, sim senhor, mas tenho cá as minhas dúvidas se o boicote aos produtos da Bel irá ter algum resultado. Quer dizer, não terá, porque o mercado local é quase residual – e ainda estou para ver qual será o açoriano que se embalará nestas cantigas do "interesse açoriano". Cheira-me que poucos. O problema continua a ser o mesmo: a hiper-dependência ao leite é perigosa e o mais correcto neste momento não é aumentar a quantidade de leite mas sim baixar os factores de produção. É, de resto, o que a Bel está a fazer…

Em relação à Unileite, só espero que os seus administradores saibam o que estão a fazer, porque a verdade é que este é um momento propício para aumentar a sua quota no mercado da produção. Não será por causa de uns prejuisozitos com a Prolacto que a porca torce o rabo – só pode acontecer é que os lavradores não venham a receber dividendos no final do ano. Não creio que seja suficiente, mas pelo menos mantenham a ideia de que a moda dos "preços de Verão e de Inverno" é história: o leite até pode vir a baixar, mas não será por ser Verão… De qualquer modo, nunca esqueçam ditados velhos como a vida: é na poupança que está o ganho…

Já sabemos que as polícias e os tribunais têm o seu vocabulário próprio, mas há expressões que, quando são passadas para o exterior, mereceriam algum tratamento. É o que aconteceu com os últimos traficantes apanhados em Ponta Delgada, que tinham consigo "uma avultada quantia monetária do Banco Central Europeu"… Seriam euros? Provavelmente. E quando forem dólares, será uma quantia monetária da Reserva Federal Norte Americana? Talvez – mas não havia necessidade, até porque as quantias monetárias do Banco de Portugal já não têm qualquer valor…

Esta coisa de ir aos fóruns para deixar no ar perguntas – como aconteceu com o governo no caso do Fórum da Criança sobre a Internet – é uma moda que já devia ter passado. Mas que se mantém sabe lá Deus porquê (embora eu tenha cá as minhas suspeitas que terá qualquer coisa a ver com o facto dos perguntadores não saberem as respostas…) Bom, mas então é assim: como ter crianças responsáveis se os pais não o são? Não sei – essa é difícil, mas é porque a resposta é muito óbvia. Agora esta: como manter as crianças seguras na Internet se os pais não percebem nada disso? Fácil: é preciso atraí-las para actividades que queremos que sejam a referência mais saudável. Claro que isso é uma missão do Governo, mas o que fazer se ele se demitiu dessas funções? Não sei, é uma pergunta difícil de responder – mas, de novo, pelo óbvio da resposta…

Criou-me alguma estranheza a notícia de que um alegado complexo hoteleiro a ser construído na zona da Praia do Pópulo poderia ameaçar um alegado património do século XVIII. Olhem, faz-me lembrar a Fábrica de Baleias dos Poços de S. Vicente – só que totalmente diferente: ali, via-se o património mas ninguém se importou e ele desapareceu; aqui não se vê o património mas já há quem o defenda… Dou um conselho aos promotores da ideia – e aos responsáveis pelo turismo e ambiente: se aquilo é património, por que raio é que não está já tratado e bem apresentado? Enfim, é mais uma que vai desaparecer – começa a ser hábito: cheira-me que daqui a uma ou duas gerações vão achar que éramos uns papalvos monumentais!

E uma imperdível: então a SATA está a estudar a privatização dos Transportes Aéreos de Cabo Verde? Deve ser para aprender como os caboverdeanos andam com os ATR...


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quinta-feira, 10 de abril de 2008

Crime: a culpa é de Lisboa?

Mui convenientemente, o Presidente do Governo acusou ontem o Governo da República pelo aumento da criminalidade nos Açores – uma tendência que se vem verificando nos últimos anos, embora aparentemente só agora seja reconhecido pelas entidades oficiais. Só agora, recorde-se, quando perceberam que os argumentos de que, ou era alarmismo de jornalista ou era questão de psicologia, já não colhem entre a população.
A isto chama-se mau governar: uma tendência com 8 anos que só ao oitavo é enfrentada, demonstra uma lentidão de actuação digna de nota. Mas também vem mostrar as virtudes da nossa "autonomiazinha": quando a situação sai de controlo, culpa-se o pai nacional...
Mas nem a culpa é principalmente do Estado, nem a solução é exclusivamente policial. É que a ter em conta o número de "camas" prisionais que temos e a sua elevadíssima "taxa de ocupação", a realidade é que as autoridades policiais têm conseguido fazer bem o seu papel: temos, per capita, uma das maiores populações prisionais do país…
O problema é outro: aparentemente produzimos é bandidos a mais… E isso é uma consequência directa do falhanço das políticas sociais que temos – e que são da exclusiva responsabilidade regional. Mas isso não convém dizer. É mais fácil culpar José Sócrates e sacudir a água do capote, atirando mais alguma areia aos olhos dos açorianos – que por esta altura já se habituaram, e se calhar até já gostam… Pode funcionar em termos propagandísticos – e estou em crer que realmente funciona – mas não deixa de ser baixa política e uma descarada mentira (ou "inverdade", como muitas vezes eles preferem dizer)!
Na realidade, as acusações de César à República apenas demonstram que os políticos regionais não têm a mínima ideia como resolver o problema da criminalidade na Região. Neste caso, poderão sempre dizer que é por… falta de competência!

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Aérea de Cabo Verde?!?

Não deixou de ter piada ouvir a notícia de que a SATA poderá estar interessada na privatização da TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde – ela que, pela mão do Governo, está a equacionar, para não dizer outra coisa, a sua própria privatização. É, por isso mesmo, uma manifestação de interesse algo estranha, isto já para não mencionar uma diferença radical que existe entre ambas as empresas: a TACV continua a apostar nos ATR, a SATA diz que eles não prestam… O mundo tem destas coisas!
Ontem tivemos acesso a mais dados sobre o enredo aéreo – e as acusações são ainda mais graves do que as que publicámos ontem. Na prática, o "memorando" emitido pela SATA é uma espécie de tiro no pé do seu administrador, tantos são os erros, omissões e até descaradas mentiras. O PSD na Assembleia arrisca-se a fazer um brilharete e o Governo a passar por uma vergonha – mas isto, claro, só no plano teórico. Entretanto, fica o sentimento de que se a opção da SATA pela Bombardier for em frente, temos uma região a saque. Porque até poderia admitir que por questões estratégicas se optasse pelo mais caro e mais gastador – mas que diabo, teríamos de ficar com a certeza de que todas as hipóteses foram estudadas. O que não é o caso – e isto entristece-me profundamente: afinal de contas, quem está a gerir os nossos bens públicos preocupa-se cada vez menos com a transparência que é imprescindível em democracia.
Por outro lado, vão passar a mandar-nos para casa as facturas do que custamos ao Sistema Regional de Saúde. Sei o que sentirá, por exemplo, qualquer diabético, ao saber que custa uma pequena fortuna. Será isto correcto? É evidente que não, mas a ideia deve ser outra: ou fazer-nos sentir culpados por ficarmos doentes, ou agradecermos com os nossos votos aos "santos" que nos dão tanto dinheirinho. Sinceramente, quanto receberem algumas dessas "facturas"; atirem-nas ao lixo sem as abrir…

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terça-feira, 8 de abril de 2008

Parar, já!

A resposta da SATA sobre a escolha da Bombardier demonstra claramente que houve desde o início o propósito de escolher um dos candidatos – o facto de se mentir em relação à capacidade de um dos aviões em operar no Corvo é claro indício disso mesmo. E quando isso é assim, estamos mal. Não aponto o dedo a ninguém, mas imagino que um gestor que vá ao mercado comprar o que quer que seja vai tentar ao máximo que haja vários fornecedores candidatos – e ter em sua posse todos os elementos. Não é o que se vê neste memorando.
A questão adensa-se ainda mais, quando consta que a SATA pediu na semana passada à Bombardier para lhe fornecer um relatório técnico a basear a escolha realizada. Isso simplesmente não é admissível pois esse é o tipo de documento que se esperava que a SATA tivesse em sua posse quando anunciou a sua escolha. E piora quando a filosofia que parece subjacente a este documento – que é, por muitos padrões, enviesado e até tosco – vai no sentido de privilegiar voos no exterior e de diminuir o número de frequências nos Açores, prejudicando-nos ainda mais. É esse o modelo que se pretende? Não creio que seja o ideal e essa opção terá de ser muito bem explicada.
As inúmeras lacunas – e mesmo inverdades – contidas neste documento penso que aconselham a discussão do tema na Assembleia Regional – e aí o PSD esteve bem. Só não pode ser é numa situação de facto consumado!
Aliás, é toda a política estratégica que está em jogo na opção que vier a ser tomada. Até há a questão do que fazer com actuais ATP – e já há mesmo quem defenda que poderá ser um erro vendê-los, podendo optar-se por os converter em aviões de carga, para operar nos Açores e no exterior. É sobre isso tudo – e mais ainda – que as decisões têm de ser tomadas e conhecidas do grande público. Por uma questão de bom senso, o processo de decisão devia ser suspenso.

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segunda-feira, 7 de abril de 2008

ENTREDENTES

De facto, o modelo de Saúde nos Açores é mesmo só de Urgências. E cá vem mais uma: o Governo vai pagar 15.500 exames complementares de diagnóstico na área da imageologia (ecografias, mamografias, TAC’ e exames de ressonância magnética). Não, a sério, estamos condenados a este modelo – e graças a Deus que temos eleições de 4 em 4 anos. Noutra região qualquer isso seria uma solução de recurso, tendo em conta que deverá ser bem mais cara (afinal de contas, os privados cobram a sua taxa de lucro…), mas como isto cá dá superavit, estamos bem. O pior mesmo é que não encontraram solução nenhuma definitiva – mas daqui a uns anos volta a haver eleições…

A última teoria que circula sobre a decisão da SATA em comprar aviões da Bombardier – sem comparticipações da União Europeia – tem a ver com o que se pode chamar de "método preparatório para uma privatização irrecusável". Reza assim o cenário: compra-se caro à Bombardier, iniciam-se rotas que não dão lucro, depois começa-se a dizer que se tem um buraco negro e que é preciso dinheiro para o tapar. O Governo vem de seguida, diz que é preciso resolver a questão – porque "o povo" não pode ser responsabilizado pelas "distorções do mercado" – e mete a coisa à venda. Aparece uma empresa interessada, vende-se aquilo por menos que o passivo e está feito… Será que é mesmo assim? Só o tempo o dirá – se o bom senso não o desmentir…

Os do Governo voltaram a picar-se com o relatório da Entidade Reguladora da Comunicação Social – que agora veio provar que também nos tempos de antena dos telejornais o PS/Governo detém quase 70% das notícias de cariz político. Logo a seguir veio a RTP-A dizer que não tinha nada a ver com isso e que se limitava a fazer o seu trabalhinho. Não duvido: isto cá para mim é apenas demonstrativo da avalanche de notícias que o Governo gosta de emitir – e como é sempre muito difícil discernir o líder do PS do Presidente do Governo, é o que a ERC viu. Também quem é que manda a RTP-A (e nós todos no geral) andar a seguir as inaugurações de canadas e casinhas? Habituaram mal o poder – mas ainda vão a tempo de o desabituar…
por falar em quotas, gostaria apenas de lembrar aos fanáticos defensores do Governo que hão-de reparar que só se fala em quotas nos lugares onde elas são necessárias – ou, por outras palavras, nos sítios menos desenvolvidos. Ou seja, ao falar de quotas para as notícias, a ERC está a passar um atestado de "menoridade democrática" aos Açores – e isso não é uma responsabilidade de Mota Amaral (pelo menos não apenas), também é vossa. Pois, é mais um sinal dos Açores que temos em movimento…

Já agora, qual o modelo correcto para a relação da comunicação social com o Governo? Elementar, caro Bobby: uma vez por dia, a uma hora determinada, o Presidente, ou um seu representante, põe-se a modos – que é como quem diz, dá uma conferência de imprensa, onde fala do que lhe apetecer e responde ao que os jornalistas quiserem. Pode falar das tais obras das canadas, com certeza, e responder sobre questões da SATA, já se sabe, no que é a sua posição oficial. Assim ficava tudo mais clarinho e, curiosamente, ainda se poupavam uns bons cobres com essa coisa do GACS… Pois, mas se calhar é avançado demais, não é?

Ou estive desatento, ou este aniversário (o 462º) de Ponta Delgada passou assim meio despercebido, tendo a marcá-lo apenas a inauguração de uma rotunda – importante para quem a usa, sem dúvida, mas convenhamos que é um modo original de celebrar uma efeméride destas. Não defendo que se fizesse uma festa com fogo de artifício, mas penso que estes aniversários devem ser sempre comemorados como forma de manter acesa a nossa cidadania –uma espécie de balanço do nosso desenvolvimento. É importante!

César diz que quer continuar a chamar independentes para o Parlamento e para o Governo numa de abrir o PS à sociedade. Dito assim até podia parecer que se tratava disso mesmo, mas tendo em conta o que o PS é hoje, cheira mais a que a primeira leva de "socialistas novos" não está a agradar ao chefe. Diga-se de passagem que com razão – pois na verdade não há muitos que se aproveitem. De qualquer modo, tendo em conta o que aconteceu no passado, a esta estratégia mais se poderia chamar de "nova campanha de angariação de sócios": acho que não houve um único independente que tenha resistido à tentação de ser filiado. É que para além de dar milhões (não dá tanto, mas pelo menos "mexe-se" com milhões e fica-se com um bonito emprego) também não custa tão caro como um divórcio quando o momento chegar… Um ligeiro conselho: desta vez, que escolha melhor os novos futuros socialistas – pois há uns que claramente não aprovaram…

O Governo decidiu agora aumentar as obrigações da Bolsa de Emprego Público dos Açores – levando a que as alterações das relações laborais também sejam publicitadas. Tudo bem, mesmo que já o pudessem ter previsto quando ela foi criada – que não foi assim há tanto tempo, pouco mais de um ano –, mas talvez pudessem começar por pôr a funcionar o que lá têm: é que consegui saber quem trabalha para o Governo, mas quando quis ver o vínculo existente – através dos "despachos de afectação" – fiquei foi a ver navios. É que há lá nomes que eu não sabia que faziam parte dos quadros da função pública e fiquei curioso…

Esta semana houve um prémio que me levou a pensar que César não esquece os amigos – pelo menos alguns. E decidiu dotar o Fórum Açoriano do estatuto de utilidade pública. Oficialmente é uma "associação cívica criada há 15 anos em Ponta Delgada para promover a reflexão e o debate sobre temas políticos, sociais e culturais, no quadro do aprofundamento da democracia" – cá para nós tinha outro objectivo que ditou o seu quase eclipsamento nos últimos 12 anos: fazer eleger o PS. Enfim…

Esta da demolição da antiga Fábrica das Baleias dos Poços de S. Vicente é um retrato claro da forma como o turismo é gerido nos Açores: vende-se no exterior beleza e cultura – mas cá dentro vai-se dando cabo de tudo. A culpa nem é toda do BCA – agora Banif – mas o facto é que em qualquer outro sítio que queira desenvolver turismo de qualidade esta estrutura há muito que teria sido recuperada. Cá não, olha-se indiferentemente para isto tudo e deixa-se as coisas apodrecerem. Está-se mesmo a ver que vão dar cabo do que resta dos Poços – e em seu lugar nascerá um gueto moderno qualquer. Até mete medo!

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sexta-feira, 4 de abril de 2008

Núvem de dúvidas sobre a Sata

São contradições a mais para tanto silêncio e é fundamental que o Governo apresente claramente os argumentos que os seus "técnicos" lhe apresentaram para optar pela compra de aviões muito mais caros a todos os níveis. Porque enquanto não o fizer – enquanto não conseguir concencer os reais accionistas da SATA, que são todos os açorianos, não o esqueçamos – apenas estará a adensar uma nuvem de dúvidas que já começa a afectar a sua própria credibilidade.
Porque não estamos perante pequenos detalhes. São grandes, atingindo uma proporção que simplesmente não é negligenciável. E nem quero imaginar que tem tudo a ver com alterações a meio do jogo e novos sonhos de ligar a Macaronésia, quando o objectivo é o de ligar os Açores.
Não nos fica bem estes imbróglios sucessivos com concursos públicos e a população tem de ser devidamente esclarecida sobre todo este processo. Não será um "segredo de Estado", suponho eu… Aliás, na sua visita a Cabo Verde, Carlos César terá oportunidade de experimentar os ATR. Serão suficientemente majestosos para a sua comitiva – ou o importante é mesmo que este processo pareça ser transparente?
Todo este episódio ocorre na mesma semana em que se decide um "momento histórico" para os Açores – com a aprovação na Assmebleia da República, na generalidade, da terceira versão do Estatuto Político Administrativo. A diferença entre o mundo político e o real não podia ser maior: para os deputados, parece que estamos perante uma espécie de refundação da Autonomia; para a população, foi realmente apenas mais um dia, embora manchado pelas suspeitas de favorecimento que afectam o negócio da SATA.
Dois tempos, claramente, e duas regiões distintas, dois modos de ver o que devia ser a mesma realidade – e uma divisão que começa a ser insuportavelmente difícil de superar. Quando é que os açorianos voltarão a estar de facto unidos?

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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Pluralidade noticiosa

O relatório do Plano de Avaliação do Pluralismo Político-Partidário no Serviço Público de Televisão, emitido pela Entidade Reguladora da Comunicação Social – que demonstra a desproporção de notícias emitidas entre o PS/Governo e o resto da oposição – penaliza mais uma vez os Açores ao demonstrar um desequilíbrio superior ao da Madeira e continente. Mas mais do que apontar o dedo à RTP-A, é o próprio estado da democracia que está em causa.
Desde logo, a "cisma" que o PS /Governo tem com a comunicação social: apesar de 70% do noticiário político ser seu, como demonstra o relatório, ainda recentemente protagonizou um episódio lamentável por a RTP-A não ter coberto um jantar-comício. E não estamos a avaliar o peso que este tipo de notícias tem nos noticiários – nos jornais é ainda mais evidente, fruto de uma enorme máquina propagandística que dá pelo nome de GACS e que é caso único nas democracias ocidentais.
Mas mais importante ainda é a radiografia do nosso modelo eleitoral que o relatório da ERC permite. Na Madeira do "ditador" Jardim, a Assembleia Regional tem neste momento 7 partidos representados – enquanto que nos Açores apenas temos 3. Lá o problema é os pequenos partidos terem "voz a mais" (tanto que já se começa a discutir um novo Regulamento da Assembleia que garanta o peso eleitoral real de cada partido). Cá os pequenos são inexistentes e assim continuarão até elegerem algum deputado – coisa que poderá ser impossível com o sistema eleitoral que temos (e a última revisão não garante rigorosamente nada a este nível).
É por aqui que passa a análise da concentração de notícias "oficiais" – e não pelas críticas ao modelo que foi adoptado pela ERC, que na prática é, de novo, resposta de mau perdedor. Na realidade, enquanto não houver mais vozes na Assembleia, não as haverá nos telejornais…

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quarta-feira, 2 de abril de 2008

Enfermeiros de Família

Folguei saber que o PP defende a criação do "enfermeiro de família" – e ainda mais folgado fiquei quando percebi que o Sindicato dos Enfermeiros defende a mesma coisa. Afinal de contas, esse tinha sido um tema quase recorrente aqui no Contra-Opinião – que embora se entretenha a contradizer, também gosta de deixar algumas pistas com vista ao bem estar colectivo. Quem não tem cão caça com gato – e nós temos enfermeiros com fartura, não temos é médicos.
Aliás, meio a brincar, apetece dizer que, neste cenário de carência, talvez seja um desperdício que Artur Lima não se dedique à sua profissão… É que a questão não tem tanto a ver com a criação de um uma lei que invente uma nova categoria de enfermeiros – bem pelo contrário, esta é uma questão bem mais pragmática e concreta. Aliás, numa ordem de prioridades, nem faz qualquer sentido criar já uma categoria desse género: o que é preciso é constituir equipas, lideradas por médicos de família, que comecem a desenvolver uma política familiar de qualidade. Aliás, talvez fosse pela definição do que isso significa que se deveria começar…
Infelizmente, os políticos tendem a pensar que criando leis resolvem tudo, quando na realidade estão apenas a lavar as mãos dos problemas que alegadamente pretenderam criar. Quando o que precisamos é de eficácia e seriedade na aplicação das directivas existentes – mas nisso os políticos não se metem.
É fundamental uma nova política de Saúde para os Açores, virada para a prevenção a todos os níveis. O acaso (ou Deus) dotou-nos de uma população suficientemente pequena e ao mesmo tempo educada para podermos implementar um serviço de Saúde perfeitamente exemplar. Infelizmente, tal como na Educação – e até no Ambiente – teimamos em não o fazer… Será teimosia ou simplesmente incompetência?

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terça-feira, 1 de abril de 2008

Socialismo não socialista...

As parcas declarações que se ouviram sobre a moção política de Carlos César para o próximo mandato à frente do PS são preocupantes. Em linhas gerais, o PS passa a ser um partido de "socialistas e não socialistas", o que institui as bases do conceito de "partido único" – de resto, diz o presidente do PS que é preferível "mudar o PS, porque a alternativa é os açorianos mudarem de partido"…
Há cada vez menos dúvidas que o que faz falta ao PS é uma espécie de Manuel Alegre açoriano – não só pela frontalidade, mas também pela convicção ideológica. E não há. O que há em crescendo é um partido governamental (de tachos), composto por funcionários públicos de nomeação (até entrarem para os quadros da função pública), cujas ideias se cingem à sua própria governabilidade. Não é isso que a política devia ser…
O discurso do presidente do PS confundiu-se perigosamente com o do Presidente do Governo – ele sim, a governar para todos os açorianos e não só para os socialistas. E se bem que o objectivo de qualquer actividade partidária seja, em última análise, o de governar, a democracia é, pela sua própria natureza, adversa aos sonhos de partido único a que este PS se parece candidatar.
Os partidos são um instrumento da democracia e é como tal que devem ser encarados, instituindo-se modelos de organização política que promovam o debate das ideias e o aparecimento de novos valores. Nada disto é conseguido com o modelo eleitoral que temos em vigor nos Açores – bem pelo contrário, como se vê, arriscamo-nos a atingir uma situação de tal forma monocórdica que fará inveja a qualquer ditadura.
E não é só uma questão de ideias: é que por detrás desta aparente calmaria, subsiste em muitas áreas um clima de incompetência disfarçada e de ligações intoleráveis entre os interesses público e privado que exigem uma fiscalização que nenhum modelo de "partido único à regional" poderá garantir…

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