sexta-feira, 28 de março de 2008

Alegrias cesarianas

Manuel Alegre é gente de bem, por aquilo que representa e por aquilo que é. Pessoalmente, gosto em especial da ideia do artista-político que ele desempenha na perfeição, assim como da sua irreverência perante o que considera ser a injustiça do mundo.
É por isso que me senti algo incomodado com o seu belo discurso no Palácio de Sant’Ana: não deve ser fácil ser patrocinado por um Governo e depois ter de lhe prestar vassalagem, mesmo que neste caso ainda tenha conseguido ver material suficiente para poder criticar José Sócrates. Nada fácil. Mas como ser poeta também é fingir que é dor a dor que realmente se sente, Alegre conseguiu ver aquilo que ele gostaria que fosse verdade, sem que realmente ainda o seja…
Até seria interessante que César fosse o socialista que Alegre vê nos Açores, herdeiro de Antero de Quental e fonte de inspiração para os socialistas portugueses. Sigamos a mesma matiz poética: realmente o socialismo açoriano é isso tudo, só que totalmente diferente…
Infelizmente o nosso socialismo é bem mais humilde do que Alegre quis ver – e quer na Saúde como na Educação o resultado é uma sociedade bastante mais desigual que aquela que Antero um dia imaginou, enquanto que na administração pública e na solidariedade, ela é sobretudo incompetente e socialmente injusta.
Apesar de tudo, a mensagem de Alegre até pode ter um resultado inesperado. É verdade que o mais fácil talvez seja engolir o elogio, tal como ele veio, de forma aparentemente gratuita – mesmo apesar de ser uma novidade que agora se pague a figuras de renome para escrevinharem sobre os Açores (antes eram os próprios artistas que o queriam fazer)… Mas fariam melhor os socialistas se recorressem a ditados mais sábios, como o que diz que quando a esmola é grande o pobre desconfia – e meditassem sobre a distância que vai entre o que Alegre viu e o que ele queria ver…

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